16 janeiro 2019

Remoer


Antes eu ainda acreditava.
Tinha forças, tinha garra.

Acreditava no amor supremo, como os dos filmes, que estampam nossas caras em nossas casas o tempo todo.
E todo o tempo é isso.

O amor da vida. 
O amor perfeito.
O primeiro amor.

Hoje fico me remoendo pelos amores que deixei ou me deixaram passar.
Fico imaginando se estão realmente felizes ou se estão como eu... assim...

Será que imaginam também que não podem viver mais aquilo?
Talvez nem por questão de encontros mas por questão de inocência mesmo? Por questão de vícios, manias?
Questões de muita vida no mundo — e pode haver muita de fato —

Pelo menos parei de me vitimizar, sou mestre do meu destino. Mas o remoer...

O remoer não tem hora. 
Ele vem no cheiro do café,
na moça encantada do filme,
na lua,
no espaço,
nas cordas do meu violão,
na sopa — e na depressão de querer e não comê-la —
na janta,
na cozinha,
na rua,
na gaveta,
na foto,
na minha pele,
no meu jeito,
na minha voz embargada,
nos meus vícios,
na minha inocência.

11 janeiro 2019

Momentos

Dizem que uma noite não substitui anos de dedicação e "companheirismo" entre duas pessoas.

Talvez ninguém esteja realmente aberto pra ver que isso é bobagem.
Talvez ninguém tenha a coragem para ver que momentos podem ser maiores que vidas inteiras.
Aliás mesmo as mais profundas relações são coleções de momentos.

Hoje olhei nos olhos de uma menina que vai casar.
Que em nenhum momento se mostrou apaixonada pela decisão. Ou pelo futuro marido.

Uma menina com um brilho nos olhos tão intenso capaz de acender qualquer cidade por onde andasse. Qualquer aldeia por onde morasse.

Apaixonada pela vida, ela desconfia que não está no lugar certo.
Mas já não sabe o que fazer.
Não sabe o que mudar.
Medo.

Até pensei em dizer o que penso, mesmo a conhecendo ali, havia não mais que 20 minutos.
Adoraria dizer o que penso. Que loucura seria.
Oi, te conheço a 20 minutos e consigo ver teus olhos cheios de lágrimas. Elas apenas não caem.

Se tivesse dito, talvez não estivesse aqui pra contar essa história.
Mas não disse. Presumi que nada mudaria.

Aliás, poderia dizer até o que ela quisesse ouvir.
Enfeitiça-la.
De nada adiantaria.
Não há feitiço contra o medo. Apenas contra o amor.

Talvez se apenas me olhasse nos olhos sem medo, saberia tudo o que poderia ser.
Nem que por uma noite ou apenas por um segundo.

A vida não existe para ser desperdiçada.
Uma das maiores lições da vida é saber abandonar tudo o que foi construído ao menor sopro do coração.

Além de pesadas, não se engane: construções são passageiras, um dia virarão pó.