16 janeiro 2019

Remoer


Antes eu ainda acreditava.
Tinha forças, tinha garra.

Acreditava no amor supremo, como os dos filmes, que estampam nossas caras em nossas casas o tempo todo.
E todo o tempo é isso.

O amor da vida. 
O amor perfeito.
O primeiro amor.

Hoje fico me remoendo pelos amores que deixei ou me deixaram passar.
Fico imaginando se estão realmente felizes ou se estão como eu... assim...

Será que imaginam também que não podem viver mais aquilo?
Talvez nem por questão de encontros mas por questão de inocência mesmo? Por questão de vícios, manias?
Questões de muita vida no mundo — e pode haver muita de fato —

Pelo menos parei de me vitimizar, sou mestre do meu destino. Mas o remoer...

O remoer não tem hora. 
Ele vem no cheiro do café,
na moça encantada do filme,
na lua,
no espaço,
nas cordas do meu violão,
na sopa — e na depressão de querer e não comê-la —
na janta,
na cozinha,
na rua,
na gaveta,
na foto,
na minha pele,
no meu jeito,
na minha voz embargada,
nos meus vícios,
na minha inocência.