05 fevereiro 2010

A Casa

Adeus.

Só ouço de longe,
viro as costas para ela.
E muito mais leve do que chegara.
Fujo já muito mais tarde do que deveria,
da minha prisão,
da minha agonia sem prazer. 
Saio do meu próprio eu.
Descarrego todo meu peso em palavras.
Obedeço à minha vivência.
Olho em volta.
Mas choro por tentar.
Tento.
Sinto lágrimas.
É muito forte.
Eu quero.
Mas é preciso.
Não lembro o porquê.
Não lembro onde estou.
Entro na porta e saio.
Organizo minha imaginação.
Não há volta.
A escolha, afinal, foi minha.
Devo entrar.
Perguntam-me se quero entrar.
Como depressões de carne.
Como sensações horríveis te olhando.
São geladas.
Cumprimento-as.
Elas tinham que estar lá.
Não há volta.
Vou-me arrastando.
Dobro-me.
Meus joelhos já não me pertencem.
Mas meus olhos não se desfocam mais.
Quero olhar em volta.
Fria. Porém irresistível.
Ela está lá.
Avisto-a.
Viro a segunda esquerda.
Ando um pouco.
Saio do metrô.
Já era hora.
Vejo a saída.
Cheiro de repressão.
Não de pessoas.
Quase não suporto o cheiro repugnante do ar.
O cheiro toma conta.
Sinto o ar pesado das indignações.
Pego o trem.

Odeio degraus. 
Infinitos e tortos degraus.
Um por um.
Desço-os.
Entro. 
Mas, já quase sem freio,
vejo a estação.
Ando mais que vagarosamente.
Ando me forçando a parar.
Não posso fugir do que sou.
Mas é tarde demais.
Elaboro um plano.
Hoje não.
Saio de casa.