24 março 2010

Detalhes

Poesia é enxergar detalhes, não necessariamente mostrá-los.
Quase nada está na vitrine, e só a força de enxergar já me cansa por cinco vidas.
Por isso não me venha falar de má vontade.
Porque se pudesse nascer por todo mundo, também não o faria.
É entrega demais.
É esperar demais, de mim.

23 março 2010

Pensamento

Um dia, tenho certeza, conseguirão provar que pensar faz mal. Mas enquanto isso ...
Apesar da gramática insistir, pensamento não é uma palavra.
Pensar talvez seja uma ação, um verbo, mas na minha cabeça nem isso faz sentido.
Na verdade um pensamento traduzido em palavras é nada menos que uma mentira.
Mentira.
Se fosse um poeta, um pensamento seria dor.
Eu teria dito matéria-prima mas nem eu conseguiria ser tão mentiroso.
Se fosse uma língua, um pensamento seria no máximo a minha língua, a qual ninguém mais possui. De fato, outra mentira.
Aposto que nem do dicionário conseguiria tirar alguma conclusão (até porque não há nada a ser concluído) sobre o que seria essa intenção de materializar correntes elétricas.
Intenção ...
É isso!
Pensamento é minha intenção de querer. Nossa intenção de explicar.
Portanto desculpe-me se não me fiz por entender, e muito menos quis.
É tudo ilusão.
É tudo ilusão ...

17 março 2010

Vida Jogada

Notei hoje meu quarto completamente desarrumado e não pude deixar de pensar ...
Talvez esteja vivendo mais ...
Talvez esteja vivendo a mais ...
Mas talvez esteja vivendo ...
UFA!
Afinal, viver talvez seja exatamente desesperar-se.
Desespero-me e me desarrumo.
Desespero-me e começo a me importar ...
A me contorcer ...
A me enxergar.
No desespero do meu quarto não pude deixar de notar ...
Vivo notando ...
Vivo a pesar ...
Deveria é jogar minha vida para o ar.

Expor minhas feridas,
Bagunçar minhas ideias,
Esparramar minhas palavras ...
Não ter medo de me misturar.
Talvez uma boa vida seja mesmo jogada,
Atrapalhada,
Confusa,
Misturada.

15 março 2010

Atores e Atrizes

Algumas pessoas ainda teimam em achar que suas vidas não são reais,
Que suas vidas são apenas histórias extraídas de um bom livro de capa dura.
As pessoas se tornam então personagens. Os anos apenas meros capítulos.
Agem como se houvesse uma trama maior.
Teimam em achar um final feliz.
O ser humano é incoerente, já dizia um amigo meu.
Ao pagarmos com realidade, queremos de troco fantasia.
E a frustração não há quem possa.
Eu era assim, mas hoje estou só.
Solitário como nunca, e como sempre. Como um prisioneiro preso numa solitária prisão.
Pertenço ao intervalo do que posso ser e do que eu quero ser.
Completamente só.
Mas como posso eu estar só?
Me respondo.
Meu personagem tem tudo que sempre quis ...
Mas eu, o da vida real, de tanta ficção acabei ficando sem ar.
Atores e atrizes por favor abandonem seus papéis ...
Não há tempo (que bom seria se houvesse) para atuações.
O Mundo roda como a roda de uma bicicleta velha, como uma montanha-russa enferrujada.
Não há vitrine, nem palco. 
Nem páginas, nem telas.
Um monólogo para você mesmo. Seu único espectador.
Nossas vidas são reais.

09 março 2010

Conselho

Se me permitem, e aposto que não, deixem-me abusar do que se conhece por eu-lírico.
Vida minha, estou com medo.
Apesar de meu descanso nobre e longo durante eras antes de você, preocupo-me se não está facilitando demais para os demônios de seu interior.
Nunca lhe ocorreu, mas ingratidões profundas e preocupações extraordinárias podem me afetar.
Apesar de achar burramente que não me conhecerá, pois “não passo de um simples navio naufragando em um oceano qualquer”, temos nossas ligações, e de suas atitudes tiro nossas conclusões.
Tente lembrar que de escolhas eu vivo, de medos e insônias me alimento, mas que de amargura me preencho. Não de coisa boa, você já sabe do que.
Quer descansar?
Então me escute.
Trate de se apurar. Inspire com calma e transpire com segurança.
Tenha leveza.
Boa passagem.
Etrom

06 março 2010

Eu contra o Mundo

Nunca obtive resposta, tampouco fiz alguma pergunta.
Do que adianta eu me doar ao Mundo se nem me doo a ti.
Corra agora!
Vá!
Porque daqui nada tirarás.
Somos como uma planta carnívora,
Eu e o Mundo.
A aparência delicada só antecede o ataque.
E que ataque!
Não há como escapar.
Há algum tempo atrás, resolvi fazer uma aposta.
Eu contra o Mundo.
Quem perdesse ganharia a solidão,
O não entendimento.
A falta de doação.
Perdi.
Nasci.

04 março 2010

Liberdade

(Com um dedilhado de provocação... Até a mim mesmo)

Música?
Com certeza que é mais fácil.
Aqui é o paraíso dos perversos,
Uma terra sem fronteiras.
Sem proteção de solos e melodias,
Sem enganação de efeitos calculáveis.

Aqui é onde nos encontramos,
Cara a cara.
Sem guitarras, sem distorções. 
Não é para qualquer um,
Aqui é a liberdade.
“ Everybody had a hard year...”